A VULNERABILIDADE DOS YANOMAMIS DURANTE A PANDEMIA:

A GESTÃO DOS CORPOS INDÍGENAS NO GOVERNO BOLSONARO

Autores

  • MATHEUS DE SOUZA SILVA Universidade Federal de Sergipe
  • KARYNA BATISTA SPOSATO Universidade Federal de Sergipe

Palavras-chave:

Povos Indígenas, decolonialidade, vulnerabilidade

Resumo

O presente artigo investiga o posicionamento institucional frente à crise humanitária vivenciada pelos Yanomamis na pandemia. Considerando a existência de uma vulnerabilidade histórica desse grupo, provocada por uma perspectiva hegemônica estigmatizante, a investigação partiu da seguinte questão: como o Governo Federal, na gestão de Bolsonaro, atuou perante a sua responsabilidade para mitigar a vulnerabilidade dos Yanomamis no contexto pandêmico? A hipótese seria de que estaria configurado um exercício de poder necropolítico pelo governo brasileiro. Utilizou-se de uma metodologia essencialmente de caráter bibliográfico, com análise documental. Os resultados indicam que, aprofundando a vulnerabilidade decorrente dos estigmas produzidos pela colonialidade, o respectivo governo exerceu uma dinâmica de poder violenta. A profusão de uma reconstrução epistemológica mostra ser salutar em prol da luta pela efetivação dos preceitos de cidadania para Povos Indígenas, garantindo a sua autodeterminação e o respeito à sua existência.

Biografia do Autor

MATHEUS DE SOUZA SILVA, Universidade Federal de Sergipe

Doutorando em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre pela Universidade
Federal de Sergipe (UFS). Autor de Vulnerabilidades e Direitos Humanos: uma crítica ao pensamento
hegemônico para (re)pensar a pessoa humana (Editora Telha, 2025). Pesquisador do Núcleo de Tribunais
Internacionais – NETI USP e do Legal Fronts.
Universidade Federal do Paraná (UFPR)

KARYNA BATISTA SPOSATO, Universidade Federal de Sergipe

Professora Adjunta do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Doutora
em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestra em Direito pela Universidade de São
Paulo (USP), onde também se graduou. Universidade Federal de Sergipe (UFS)

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Publicado

2025-10-31

Edição

Seção

Cidadania modelando o Estado