Territórios e territorialidades musicais
conceituando as apropriações do espaço público pela música
DOI:
https://doi.org/10.5935/cadernospos.v24n2p79-92Palavras-chave:
Música; Território; Espaço público; Territorialidade; Cultura urbana.Resumo
No presente cenário de empoderamento sonoro, fruto da facilidade de acesso à tecnologias de potência sonora significativa, propõe-se compreender a influência da música nas dinâmicas do urbano por meio de sua leitura não só como uma espacialidade imaterial, na dimensão sonora, mas também material, como uma prática socioespacial. Esta leitura sugere que, mais do que se configurar como elemento paisagístico, as práticas musicais dimensionam territórios no espaço público, estabelecendo relações de poder enquanto se apresentam como elemento artístico-cultural. Conflitos e negociações no uso do espaço surgem dessa característica, sendo propícia, para sua compreensão, a proposta de uma nova episteme que possibilite analisar essa relação música-espaço urbano. O território musical surge como conceito--chave nesta episteme, contemplando tanto a natureza dos espaços de cultura quanto a natureza impermanente e temporal do som. Sugere-se que esse território provém de territorialidades que se relacionam diretamente com os atores envolvidos na produção e recepção da prática musical. Essa territorialidade pode promover um impacto positivo, de qualificação, ou negativo, de disputas sobre o espaço.
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