Editorial
Abstract
Em todos os tempos o pensamento ocidental buscou a explicação da realidade, oscilando entre o que é universal e o específico. A procura da identidade ou propriedade universal e a diferença constituem pilares que fundam as bases do método, na aspiração epistemológica humana. Encontramo-las na relação dialética que Aristóteles instituiu ao afirmar que as categorias se referem às coisas e assim as apreendemos em seu caráter, a partir do que nos é dado nos universais. Na atualidade, nada mais pertinente para confirmar esse movimento que o tema da compreensão do que é local ou específico, diante da universalidade representada pela categoria do que é global. Entretanto, hoje o global coincide com a idéia de diversidade e diferença, dispersão e pluralidade. O que é global se constitui da possibilidade de ser específico e diverso. Os artigos que integram este número dos Cadernos de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da UPM traduzem a historicidade presente no movimento dialético entre o local, entendido como diversidade e diferença e o global. Permitindo construir a afirmação de que ao conhecer a globalidade ou a generalidade e ao compará-la com as experiências específicas, é possível integrar as vozes reprimidas ou fenômenos marginalizados ao domínio do conhecimento e estabelecer fronteiras de identidade por meio da alteridade. Ao nos depararmos com os outros, reconhecemos a nós mesmos. Assim, é possível reconhecer nossa modernidade (e contemporaneidade) ao estabelecer elos com aquela exógena e estrangeira, eliminando traços de subserviência, e reconhecendo o objeto específico sobre o qual nos debruçamos. Esta intenção de encontrar caminhos próprios face ao que é global, definindo estes conceitos e estabelecendo metodologias para a relação dessas instâncias se encontram em todos os trabalhos, alinhando-os às condições históricas do presente. Em Eduardo Augusto Kneese de Mello?Arquiteto, Aline Nassaralla Regino e Rafael Antonio Perrone abordam a trajetória profissional desse importante arquiteto, analisando obras e projetos de habitação coletiva. O trabalho busca caracterizar o Arquiteto como personagem ativo fundamental para a divulgação e afirmação da Arquitetura Moderna em São Paulo, condição que é intensificada a partir da década de 40. Assinala também a presença de uma relação entre a qualidade da obra e a consciência projetiva exposta nos textos produzidos por Kneese de Mello, afirmando seu empenho acadêmico em favor da expansão do ensino de Arquitetura e Urbanismo. O texto Obras e discursos da cidade e o imaginário da cidade: a arte, o construtor, o poeta, o filósofo e o arquiteto de autoria de Maria Isabel Villac apresenta um panorama da construção do imaginário urbano a partir da revolução industrial. A partir de uma visão cultural e interdisciplinar, discute a contribuição das artes, da literatura e da filosofia ao discurso e à interpretação do desenho da cidade e da arquitetura, enfocando os eventos significativos ocorridos nesses campos no século XX. Em The sameness x the otherness: What does a global education drive for?, Ruth Verde Zein, Ana Gabriela Godinho Lima, Paulo Julio Valentin Bruna, Carlos Eduardo Dias Comas, Christian Fernadéz Cox e Julio Gaeta discutem o ensino da Arquitetura contemporânea a partir da especificidade da produção arquitetônica latinoamericana. Considerando a inserção global e a diversidade como fundamentos da educação arquitetural, ponderam sobre a necessidade de elaboração de pesquisas que reavaliem a contribuição e o legado dos diferentes países da América Latina para a Arquitetura Moderna e Contemporânea. Essa produção acadêmica é fundamental para disseminar globalmente idéias, discursos, ambiências, práticas e rotinas, contribuindo de maneira decisiva para a formação de uma base de conhecimentos comum, capaz de proporcionar o reconhecimento das identidades no confronto com aquilo que se enuncia como generalidade. Em Desafios das Políticas Urbanas no Brasil: a importância dos instrumentos de avaliação e controle social, Angélica A. Tannus Benatti Alvim, Volia Regina Costa Kato, Luiz Guilherme Rivera de Castro e Silvana Maria Zioni discutem o problema da avaliação das políticas públicas no Brasil. Partindo da constatação de que não há metodologias consolidadas para o enfrentamento de avaliações, acompanhamento e controle na implementação de políticas públicas urbanas em nosso país. O artigo abraça o objetivo de discutir a atividade de avaliação nos planos e programas para a escala local intraurbana, tomando por base dados obtidos em pesquisa realizada em 2005. A referência empírica é o conjunto de políticas urbanas no Município de São Paulo, entre 2001 e 2004, o qual procura institucionalizar o planejamento de moldes participativo e descentralizado, com os marcos legais firmados pela Constituição de 1988 e pela Lei Federal no. 10.257 de 2001 - Estatuto da Cidade. Neste trabalho, Arranjos Produtivos Locais Em Cidades de Porte Médio do Estado de São Paulo: Uma Oportunidade ao Desenvolvimento Urbano de Gilda Collet Bruna, Angélica Tannus Benatti Alvim, Volia Regina Kato, Roberto Righi e Luiz Guilherme Rivera de Castro analisa a relação dos Arranjos Produtivos Locais (APL) com o desenvolvimento local, em cidades de porte médio a partir dos casos de Limeira e Franca. Articulando as questões urbanísticas ao desenvolvimento econômico, busca caracterizar os efeitos das transformações produtivas do setor industrial, os efeitos territoriais e as políticas urbanas em curso. Trata-se de um dos frutos da pesquisa Estruturação Urbana e Arranjos Produtivos Locais. Identificação e análise das relações entre processos sociais, efeitos espaciais e políticas urbanas através de estudo dos casos das cidades de Franca e Limeira, no Estado de São Paulo. Higienópolis, formação e transformação, artigo assinado por Denise Antonucci, tem por objetivo geral contribuir para a expansão do tema Morfologia Urbana e seus correlatos, considerando as categorias de produção do espaço construído e tipologias dos tecidos urbanos. Para tanto, aborda o caso do bairro de Higienópolis, considerando suas transformações morfológicas desde o final do século XIX e sua nova connfiguração ao substituir antigas chácaras por loteamentos para a elite cafeeira. Enfoca a contribuição do Estado para a regulação da expansão urbana da cidade de São Paulo, por meio de leis específicas que privilegiam o loteamento de Higienópolis, ao preservar suas características residenciais de alto padrão, num primeiro momento, e com o passar do tempo, ao possibilitar a verticalização e a mudança de usos. Em Uma herança urbanística e ambiental, Gilda Collet Bruna e Eunice Helena Sguizzardi Abascal trazem uma reflexão sobre a herança cultural de paradigmas urbanísticos e ambientais das cidades portuguesas, legados à urbanização brasileira. Analisa as controvérsias assinaladas pela eminente pesquisadora Roberta Marx Delson a respeito da ocupação administrada pela Coroa portuguesa da hinterlândia brasileira, reforçando assim o mito da falta de planejamento das cidades no Brasil. Neste sentido, o trabalho procurou responder a indagações tais como: havia relações entre as normas eclesiásticas que interferiam no desenho urbano e as decisões da Coroa? Em que consiste a autonomia municipal e que relação guarda com a urbanização? Por fim, em Comparação de alguns elementos do traçado urbano nas cidades de São Paulo e Buenos Aires, na virada do século XIX para o XX, Ricardo Hernán Medrano analisa as mudanças qualitativas ocorridas a partir da segunda metade do século XIX, no momento em que o Brasil se converte de país agrário em industrial, e de retaguarda rural da rede urbana européia à situação modernizadora.Downloads
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