Dinâmicas da expressão: uma reflexão sobre o movimento no corpo diferente

Autores/as

  • Rosangela Bernabé Universidade Salgado de Oliveira

Palabras clave:

Elementos da dança, deficiência, reabilitação, equilíbrio, inclusão social.

Resumen

A dança é fruto da necessidade de expressão da pessoa e se liga ao que há de básico na natureza humana como sentimentos, desejos, realidades, sonhos, traumas. Falemos, porém, da linguagem do movimento quando este pode habilitar a pessoa com deficiência na retomada de seu leque de sensações, da dança como instrumento facilitador da percepção de que o indivíduo faz parte finalmente – ou novamente – de uma sociedade. Seria uma proposta paradoxal? Se fecharmos olhos e visualizarmos uma pessoa numa cadeira de rodas e em movimento. A imagem que se delineia é de alguém sentado e outra pessoa atrás empurrando. Direcionemos o foco diretamente ao desejo comum de retornar à posição de pé como solução ideal para quem não anda com as próprias pernas; se nos remetermos à teoria da evolução, concluiremos sem esforço que a verticalidade vem sendo conquistada arduamente ao longo de milhões de anos para ser trocada facilmente pela posição sentada e se não pensarmos duas vezes, a deficiência pode até ser responsabilizada pela dificuldade de fruição da pessoa. O movimento parece ser antagônico na presença de uma lesão e, talvez por isso, imaginar alguém em sua cadeira de rodas num palco, dançando, seja tão difícil. O trabalho com a dança e seus elementos transforma a cena e a imagem que o estigma da deficiência imprimiu ao longo dos séculos. No Brasil, o último censo desenhou uma população de 14% como portadores de alguma deficiência. Ora, se uma lesão ”confisca” o movimento músculo-articular de pequena ou grande parte do corpo, não será difícil calcular o conjunto que “anima” o corpo dessa população. Acrescentemos a esses dados as barreiras arquitetônicas mais banais encontradas em todos os lugares. A “paralisia emocional” que se revela; vista de fora ou experimentada, é muito mais contundente e abrangente do que a dificuldade motora imposta por qualquer lesão. A dança e seus elementos se transformam em pontes de acesso, cujas larguras, alturas, comprimentos e condições serão determinadas por quem nelas transitarem. O passaporte para o movimento desejado é o próprio gesto. Até abril de 1988, ainda não havia experiência acadêmica registrada com o trabalho de dança em cadeira de rodas no Brasil. Um olhar retrospectivo de avaliação da evolução desses 25 anos de implantação do movimento da dança junto a pessoas com deficiência no Brasil nos mostra corpos - porque não dizer - mais saudáveis, decididos, corajosos, expostos ao calor tropical, disponíveis ao movimento da vida, aos olhares de cima para baixo. Parece que a vocação dançante do povo brasileiro não se rendeu à paralisia que o estigma da deficiência impõe. É um grande exercício descobrir que o que nos faz semelhantes é justamente nossas diferenças. Mais do que se apresentar para uma platéia trata-se de subir no palco da própria vida, estar no comando do próprio corpo e se dar o prazer de se ver e se sentir em movimento, dentro de um teatro ou lá fora, atuando na vida real.

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Biografía del autor/a

Rosangela Bernabé, Universidade Salgado de Oliveira

Formada em Educação Física na Universidade Federal do Espírito Santo, Pós- Graduada em Dança, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em Fisioterapia, nas Faculdades Pestalozzi, Niterói RJ, Mestrado em Atividade Motora Adaptação e Saúde na Unicamp, Campinas, SP (sob o título: “Dança e Deficiência: Propostas de Ensino), é professora da Universidade Salgado de Oliveira, no curso de Fisioterapia, supervisora de estágio do setor de Terapia Corporal da Clínica Escola Universo (CEU) da mesma universidade, professora na Graduação do curso de Educação Física, nas Faculdades Integradas Maria Thereza e trabalha com a Dança e seus elementos na Clínica Corpo em São Francisco, Niterói. Tem formação em Cadeias Musculares e Articulares, Método G.D.S., na França e na Escola do Movimento de Ivaldo Bertazzo em São Paulo.

Iniciou em abril de 1988, no Brasil o trabalho de Dança junto a pessoas com deficiência, dirige o primeiro grupo de dança sobre rodas do Brasil, o “Grupo Giro”, que se apresenta no Brasil e no exterior, em festivais de arte e dança. Ganhadora do Prêmio Claudia 2001, pelo pioneirismo no Brasil e América do Sul, melhorando a qualidade de vida da pessoa com deficiência.

Publicado

2014-02-25

Cómo citar

Bernabé, R. (2014). Dinâmicas da expressão: uma reflexão sobre o movimento no corpo diferente. Revista Trama Interdisciplinar, 5(1). Recuperado a partir de http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/tint/article/view/6715

Número

Sección

Dossiê