De onde menos se espera, daí é que vem: o silêncio como fórmula de páthos das "musas pensantes"
Resumen
A Antiguidade clássica fornece duas representações díspares das mulheres. De um lado, as mulheres trágicas, entes sociais sem voz e que já têm em si algo de personagem, pois entram em cena para receber, em muitos casos, o troféu de uma morte violenta, narrada. No teatro trágico, a mulher sai do limbo doméstico para o mais alto grau de exposição, mas continua sob o controle do discurso masculino, agindo pelo corpo de atores homens e sofrendo uma dor que apenas indiretamente lhes pertence. De outro lado, as musas, figuras míticas cuja invocação necessariamente antecede qualquer atividade intelectual, monopólio de homens, no quadro da Antiguidade. No contexto mais amplo da produção de conhecimento, são as musas que conferem autoridade ao intelectual antigo. Ao contrário da mulher trágica, a musa só existe como voz, sonoridade, dispositivo para a irrupção do discurso do outro. Interessa-nos focalizar duas musas, uma grega, outra romana, que se peculiarizam, nesse contexto exclusivo de proeminência feminina. A grega é Polimnia, a musa pensativa, da qual procede o infl uxo fi losófi co. A outra, romana, é Tácita: também silenciosa, mas, em vez de sustentar a voz masculina, emudece-a. Pretendemos demonstrar como uma estátua escolhida de Polimnia e o discurso de Ovídio sobre Tácita (nos
Fastorum libri) revelam o que as duas musas calam sobre si e o que o silêncio das duas denuncia sobre os outros.
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