Memória(s) e identidade(s) na comemoração de uma efeméride: a abolição da escravatura na ótica de Augusto dos Anjos (1909)
Resumo
O regime escravista deixou marcas indeléveis na sociedade e na cultura brasileira, nos mais variados domínios e registros, e em múltiplas dimensões, tanto materiais quanto imateriais. Em vista desse fato, procuramos interrogar, neste artigo, os sentidos históricos expressos em um desses registros, no caso, o discurso em comemoração acerca da abolição da escravidão no Brasil proferido pelo poeta Augusto dos Anjos. Seu discurso é bastante emblemático, pois critica duramente o regime escravista apesar de, no passado, Augusto e sua família terem possuído e usufruído da força de trabalho escrava. Acreditamos que esse discurso se insere não somente nas tentativas de fundação e (re)construção de uma memória e de uma identidade acerca da escravidão no Brasil, pela intelectualidade e pela sociedade da época, como também enseja meios para o poeta (re)constituir uma memória e uma identidade para si mesmo. Para efeito de discussão, procuramos transitar entre os campos de estudo da história social e da história cultural, por meio da problematização das relações intrínsecas entre história, memória, identidade, literatura e poesia. Desse modo, dialogamos com algumas perspectivas e pressupostos de historiadores, críticos literários e antropólogos, tais como Emília Viotti da Costa, Durval Muniz de Albuquerque Júnior, Jurandir Malerba, Jöel Candau, entre outros.
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