EROSOFIA: FILHA DE DIVINA CÓPULA
Resumo
O presente artigo é composto de dois textos. O primeiro introduz o segundo, e este exemplifica aquele. O primeiro texto pretende introduzir uma forma livre, poética e lúdica de filosofar, que é, na verdade, uma mistura de filosofia com literatura, que denomino erosofia. Devido ao seu caráter híbrido, a imagem aqui usada é a da genealogia da erosofia à maneira da genealogia dos deuses gregos. Sendo assim, a erosofia seria a filha da literatura, sua mãe, e da filosofia, seu pai. A partir dessa metáfora, o primeiro texto vai descrevendo as características que essa nova disciplina, a filha erosofia, herdou de cada um dos pais, assim como as que repudiou e contra as quais se rebelou. A erosofia é o amor erótico (eros) pelo conhecimento (sophia) e não o amor amical (philia) por ele. Ela busca a experiência de sophia desde a "carne da alma" e não uma apropriação conceitual de algum objeto intencional. Ela não se detém a buscar discernir entre o certo e o errado, o verdadeiro e o falso, nem buscar o belo em detrimento do feio. Mas erosofia não quer ser louca, quer apenas ser livre. Seu único compromisso é com a autenticidade. A erosofia não precisa de nexo e prefere falar por imagens eróticas que pela pornografia e necrofilia inerentes ao pensamento analítico puramente racional proveniente de seu pai. Evita tanto a literalidade do pai quanto o estado de exceção da mãe. Pretende levar à apropriação do Sublime que a mãe só aponta e insinua. Quer poder levar até o Belo que sua mãe apenas revela e mostra de longe. Após esta apresentação erosófica da erosofia, isto é, um texto que fala do método erosófico valendo-se de uma linguagem erosófica, passamos para um texto erosófico propriamente dito: uma doxa que analisa um “fragmento” recente “de Heráclito” (escrito e publicado por uma equipe de anarqueólogos no espírito de Heráclito) que diz: “Porque rarefeita, toda realidade é fraca […]”. O texto procura compreender e analisar o fragmento a partir do conceito de “imaginal”, introduzido no Ocidente por Henry Corbin, que o descobriu na filosofia mística do sufismo do século XII. É uma doxa que usa linguagem e abordagem erosófica e que trata da hermenêutica espiritual e da apreensão mística da realidade. Esta realiza um parto ao contrário: o mundo nasce dentro de cada um à medida que ele o significa. A realidade do campo imaginal é mais intensa, mais forte. O objeto intencional que é interiorizado através da percepção imaginal é, para os místicos, muito mais real que os objetos que participam do espaço público, da intersubjetividade e que são caracterizados como “objetivos”. Dentro do campo imaginal, ele pode encontrar um parto depois do outro e nascer várias vezes em distintos níveis de realidade, cada vez mais fortes, segundo a intensidade ontológica crescente que encontra pela frente, ou, digamos, ser adentro.
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