A METAFÍSICA DO TEMPO OCULTA ATRÁS DA GARE SAINT-LAZARE
Resumo
Este artigo explora, em uma perspectiva temporal, a fotografia Atrás da Gare Saint-Lazare de Henri Cartier-Bresson. Nessa fotografia, podemos notar uma clara tomada de posição acerca do estatuto do presente e do fluxo temporal. A fotografia de Cartier-Bresson parece sugerir que o presente da realidade é um presente puntiforme, dado em uma fração de segundo, no interior do presente alongado da consciência. Pretendo sugerir que há, nesse tratamento, uma tensão entre uma fenomenologia e uma metafísica do tempo. Por meio dessa tensão, pretendo explorar a metafísica do tempo, que decorre dessa tomada de posição. Isso permitirá retraçar a estética de Cartier-Bresson à ideia de uma temporalidade não acumulativa, presente no paradoxo do arqueiro de Zenão, que constantemente fragmenta o tempo em átomos temporais. Encontraremos desdobramentos dessa concepção no modo como Bertrand Russell atribui à realidade a estrutura temporal do filme fotográfico, rompendo com a ideia de entidades persistentes, numericamente idênticas. Para Russel, cada uma das coisas da realidade é uma série de entidades, sucedendo umas às outras no tempo. Por fim, pretendo mostrar como a intencionalidade temporal da fotografia seria pensada por esse viés e propor outro modo de pensar a intencionalidade para além da estética do “momento decisivo” de Cartier-Bresson.
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