O uso estratégico das formas de tratamento corteses para expressar descortesia e vice-versa

Autores

  • Yedda Alves de Oliveira Caggiano Blanco Universidade de São Paulo
  • Ramiro Carlos Humberto Caggiano Blanco Universidade de São Paulo (USP)

Resumo

As formas de tratamento e a dêixis social, conforme aponta Levinson (2007), entre outros, estão, nas línguas naturais, definidas pelas convenções sociais. Todavia, como explica Silva (2008), não é propriamente a formalidade ou a forma em si que será revestida de aspecto cortês ou descortês. Por se tratar de fenômenos pragmáticos, algumas destas formas, convencionalmente corteses, podem ser empregadas estrategicamente como recursos linguísticos para expressar descortesia, isto é, como um ataque à imagem do ouvinte nos termos de Goffman (1967[1970]) e Haverkate (1994). Do mesmo modo, formas de tratamento consideradas descorteses (insultos ou agressões), em certos contextos e entre certos interactantes, podem ser entendidas como corteses, ou seja, como estratégias de busca do equilíbrio das imagens (face), é o que Zimmerman (2005) denomina de anticortesia. O objetivo desta comunicação é analisar, especificamente, de que maneira formas de tratamento que, em princípio, poderiam ser consideradas corteses conforme a convenção social podem ser empregadas como formas de ataque à imagem pública do ouvinte, enquanto outras, consideradas descorteses pelas mesmas convenções, podem empregar-se com a finalidade estratégica de aproximação (ou de não distanciamento) social. Considerando que as formas de tratamento expressam de modo significativo as relações sociais, a importância do estudo delas se explica porque tanto a cortesia, a descortesia, como também a anticortesia, são atividades argumentativo-estratégicas que excedem as explicações de simetria e poder relativo (BROWN e LEVINSON, 1978[1987]), e as prescrições do socialmente convencionalizado; portanto, estas atividades só podem ser compreendidas e abordadas contextualmente, interação a interação, conforme as finalidades estratégico-pragmáticas dos interactantes.

 

Palavras-chave: formas de tratamento; descortesia; anticortesia; imagem pública (face).

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Yedda Alves de Oliveira Caggiano Blanco, Universidade de São Paulo

Doutoranda em Letras pela USP, Departamento de letras e vernáculas (DLCV), na área de Linguística textual e Teorias do discurso em português.

Ramiro Carlos Humberto Caggiano Blanco, Universidade de São Paulo (USP)

Doutorando em Letras pela USP, departamento de Letras Modernas (DLM).

Referências

Albelda, M. (2005). Discordancia entre atenuación/cortesía e intensificación/descortesía en conversaciones coloquiales. In Blas, J. L, Casanova, M.& Velando, M. (eds.), Discurso y Sociedad. Contribuciones al estudio de la lengua en contexto social. Servicio de publicaciones de la Universidad de Castellón, pp. 581-590.

Blanco, R.(2015). Atenuação pragmática e problemas de intercompreensão: um estudo intercultural entre paulistanos e cordobeses. 195f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Retrieved from <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8145/tde-06062016-121646/pt-br.php>. Acesso em: 14 jan. 2017.

Bravo, D. (org.). (2005). Estudios de la (des)cortesía en español. Buenos Aires: Dunken.

Briz, A. (2004). Cortesía verbal codificada y cortesía verbal interpretada en la

Conversación. In Bravo, D. & Briz, A. (eds.), Pragmática sociocultural: estudios sobre el discurso de cortesía en español. Barcelona: Ariel.

Brown, P. & Levinson, S. C. ([1978] 1987). Politeness. Some Universals in language Use. Cambridge: Cambridge University Press.

Culpeper, Jonathan (2011). Impoliteness: Using Language to Cause Offence. New York: Cambridge University Press.

Fonseca, Rubem. (1975). O Cobrador. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira.

Haverkate, H. (1994). La cortesía verbal. Madrid: Gredos.

Kaul de Marlangeon, S. (2005): Descortesía de fustigación por afiliación exacerbada o efractariedad. In Bravo, D. (ed.). Estudios de la (des)cortesía en español. Categorías conceptuales y aplicaciones a corpora orales y escritos. Buenos Aires: Dunken, pp. 299-318.

Kaul de Marlangeon , S. (2012). Encuadre de aspectos teóricos-metodológicos de la descortesía verbal en español. In Morales, J.E. y Vega, G.H. (0rgs.), Miradas Multidisciplinares a los fenómenos de cortesia y desortesía en el mundo hispânico. 1ª. Ed. Barranquilia –Estocolmo; CADIS – Programa EDICE, pp. 76-106.

Kaul de Marlangeon, S. (2017). Tipos de descortesía verbal y emociones en contextos de cultura hispanohablante. In Bravo, D. Pragmática Sociocultural /Sociocultural Pragmatics: Revista Internacional sobre Lingüística del Español. Edice. Retrieved from < https://www.degruyter.com/view/j/soprag.ahead-of-print/soprag-2017-0001/www.degruyter.com/view/j/soprag.ahead-of-print/soprag-2017-0001/soprag-2017-0001.xml> . Acesso em 21/11/2017.

Levinson, S.C. (2007). Pragmática. São Paulo: Martins Fontes.

Placencia, M.; Bravo, D. (2002). Actos de habla y cortesía en español. Lincom: Europa.

Silva, L.A. (2008). Cortesia e formas de tratamento. In Preti, D. Cortesia Verbal. São Paulo: Humanitas, pp. 157-191.

Silva, L.A. (2011). Cortesia e atenuação nos atos diretivos dos documentadores do Projeto NURC/BR. In Preti, D. (org.), Variações na fala e na escrita. São Paulo: Humanitas, pp. 273-297.

Verbete “Cortesia”. In: Dicionário Auréilo on line. Disponível em < https://dicionariodoaurelio.com> Acesso em 20/11/2017.

Verbete “Cortesia”. In Léxico. Dicionário de Língua Portuguesa on line. Disp. em < https://www.lexico.pt/cortesia/>. Acesso em 20/11/2017.

Zimmermann, K. (2005). Construcción de la identidad y anticortesía verbal.Estudio de conversaciones entre jóvenes masculinos. In Diana Bravo (ed.), Estudios de la (des)cortesía en español. Categorías conceptuales y aplicaciones a corpora orales y escritos, 245-271. Buenos Aires: Dunken.

Downloads

Publicado

2018-08-31

Como Citar

Blanco, Y. A. de O. C., & Blanco, R. C. H. C. (2018). O uso estratégico das formas de tratamento corteses para expressar descortesia e vice-versa. Cadernos De Pós-Graduação Em Letras, 18(2). Recuperado de http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/cpgl/article/view/11390