Modos de enfrentamento da morte violenta: a atuação dos servidores do Departamento de Criminalística do Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul

Autores

  • Neusa Rolita Cavedon Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Palavras-chave:

Morte, Violência, Medo, Perícia, Etnografia

Resumo

No intuito de compreender os modos de enfrentamento de um fazer diário que envolve o convívio profissional com a morte violenta é que realizei uma pesquisa de cunho etnográfico, de 2007 a 2010, no Departamento de Criminalística (DC) do Instituto-Geral de Perícias (IGP) do Rio Grande do Sul. Entrevistas, observação simples e participante correspondem às técnicas escolhidas para a obtenção dos dados, sendo que a análise dos achados de campo seguiu os ditames dos estudos etnográficos ao atentar para as interlocuções entre a visão êmica, a visão ética e os teóricos referenciados. A sustentação teórica sobre a morte encontra respaldo nos estudos de DaMatta (1987), Ariès (2000), Elias (2001) e Bauman (2008). Elias (2001) afirma que a morte na contemporaneidade foi recalcada sob dois âmbitos: o individual e o social. O recalque individual impõe uma distância dos moribundos, enquanto o recalque social se dá com a morte ocupando os bastidores da vida social. No caso dos servidores do DC, o enfrentamento da consciência da morte e da violência se dá pela ênfase no "outro mundo", das almas; pela desconstrução, ao descobrir as causas da morte violenta através da busca pela verdade, mediante a utilização do método e das técnicas científicas; pela banalização, onde o corpo da vítima é visto como um "objeto" ou um "boneco"; por meio do riso, do humor negro; o enfrentamento de uma morte violenta no âmbito pessoal mediante o exercício profissional que desafie o indivíduo a ficar frente a frente com essa realidade. Os trabalhos de Marta et al. (2009), Combinato e Queiroz (2006), Brêtas, Oliveira e Yamaguti (2006) mostram que os sujeitos por eles pesquisados não foram educados para lidar com a morte no âmbito do trabalho, situação idêntica foi detectada junto aos servidores do DC, sendo a proposição educacional de Kovács (2005) aplicável ao caso em questão. A contribuição dessa pesquisa para os estudos organizacionais consiste em chamar a atenção para uma temática pouco abordada na área, bem como enfatizar a relevância das organizações encontrarem mecanismos de auxílio a aqueles que têm por profissão o convívio com a morte violenta.

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Biografia do Autor

Neusa Rolita Cavedon, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutora em Administração pelo Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professora do Departamento de Ciências Administrativas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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Publicado

2011-05-16

Edição

Seção

Gestão Humana e Social